Loyse Pogiam Psicóloga

Loyse Pogiam Psicoterapia Online

Psicoterapia online, a ciência comportamental a seu favor.

O debate sobre a responsabilidade social e ética da Análise do Comportamento (AC) é contínuo e essencial, remontando às suas raízes conceituais. Em um mundo marcado por desigualdades e controle social estratificado, a questão se mantém: a AC é parte do problema ou da solução? Quatro artigos acadêmicos, abrangendo obras clássicas e contemporâneas, convidam a uma reflexão profunda sobre o papel político do analista do comportamento e o compromisso com a justiça social.

O Dilema do Controle Social: Submissão ou Serviço

A principal crítica levantada sobre a análise do comportamento e o compromisso social ao longo dos anos centra-se no risco de a AC se tornar um instrumento de manipulação e manutenção de estruturas de poder. Holland (1978) formalizou o dilema ao perguntar se o comportamentalismo faria “parte do problema ou parte da solução” (p. 81). Ele argumenta que, enquanto a análise do comportamento oferece as ferramentas para analisar e expor as formas de controle social, o profissional, ao aplicar o conhecimento sob a tutela de corporações ou instituições, muitas vezes acaba por reforçar o status quo opressor.

Corroborando essa preocupação, Botomé (1997) traz o foco para a atuação do psicólogo em contextos sociais, questionando a quem o profissional está, de fato, servindo: “serviço à população ou submissão ao poder” (p. 297). O autor aponta a necessidade de explicitar os conflitos e os controles sociais existentes para que o analista do comportamento tome decisões profissionais eticamente orientadas. A intervenção social, se mal direcionada, pode se tornar uma “ajuda perigosa e eficaz no controle social dos menos ricos ou menos poderosos”.

Rumo à Ação: Direitos Humanos e Comportamento Contracultural

Reconhecer o dilema do controle não leva à paralisação, mas à necessidade de um engajamento social ativo, alinhado com valores humanitários e democráticos. Dittrich (2022) destaca a importância dos analistas do comportamento se importarem ativamente com a causa dos direitos humanos, sobretudo a partir dos princípios estabelecidos pela Declaração Universal de 1948. O autor avalia que, apesar das limitações da Declaração como conjunto de regras, a AC possui o instrumental necessário para analisar as contingências que geram a violação de direitos e atuar na construção de um mundo em que os direitos básicos e universais sejam mais reforçadores para a sociedade.

Para efetivar esse compromisso, Laurenti e Lopes (2022) sugerem explorar o “potencial contracultural” da Análise do Comportamento. Um grupo é considerado contracultural quando suas ações contestam explicitamente valores e práticas culturais dominantes e opressivas, buscando construir uma nova forma de organização social. O potencial contracultural da AC reside em sua concepção multidimensional, antiessencialista e antimentalista de ser humano, permitindo a desnaturalização de práticas culturais excludentes. Em suma, o compromisso social da Análise do Comportamento passa por uma vigilância ética constante contra a submissão ao poder (Botomé, 1997; Holland, 1978) e por uma atuação corajosa que utilize seu conhecimento científico para a defesa dos direitos humanos (Dittrich, 2022) e para a promoção de uma cultura mais justa e equitativa (Laurenti & Lopes, 2022).

Referências

Botomé, S. P. (1997). Serviço à população ou submissão ao poder: O exercício do controle na intervenção social do psicólogo. Psicologia: Reflexão e Crítica, 10(2), 297–311.

Dittrich, A. (2022). Direitos humanos: Por que analistas do comportamento deveriam se importar? Perspectivas em Análise do Comportamento, Ed. Especial (Estresse de Minorias), 86–101.

Holland, J. G. (1978). Comportamentalismo: Parte do problema ou parte da solução? Revista Mexicana de Análise da Conduta, 1(2), 81–95.

Laurenti, C., & Lopes, C. E. (2022). Uma Análise do Comportamento Contracultural: Perspectivas e Desafios. Perspectivas em Análise do Comportamento, Ed. Especial (Estresse de Minorias), 25–40.

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