O texto abordado é uma síntese de conhecimentos adquiridos pela palestrante e Psi. Loyse Pogiam durante sua formação e no 1º Congresso Italiano de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) em 2022. O objetivo principal é apresentar um modelo de intervenção frequentemente utilizado em diferentes contextos geográficos, focando na Relational Frame Theory (RFT) como um complemento à aplicação clínica da RFT no Transtorno do Espectro Autista (TEA), sem substituir a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) ou a teoria skinneriana do comportamento verbal.
Histórico e Evolução das Abordagens Comportamentais
- 1913: Com a publicação de “A Psicologia como o Behaviorista a Vê” de Watson, o behaviorismo foi formalmente estabelecido.
- Década de 1950: O behaviorismo começou a ser reconhecido fora dos EUA, principalmente na Europa, devido à americanização cultural.
- Décadas de 1970 e 1980: Houve uma divisão entre as abordagens comportamentais e a introdução da Terapia Cognitivo-Comportamental (CBT).
- Década de 1990: Surgimento da Psicoterapia de Terceira Geração, incluindo Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), Terapia Comportamental Dialética (DBT), e Psicoterapia Analítica Funcional (FAP).
Precursores e Teorias
- B.F. Skinner: Fundador da Análise do Comportamento Experimental e do Behaviorismo Radical, propondo uma teoria da linguagem que ainda é amplamente utilizada clinicamente.
- Steven Hayes: Criador da ACT e da Teoria das Molduras Relacionais (RFT). A colaboração de Hayes com outros pesquisadores, como Dermot Barnes-Holmes, foi crucial para a expansão e aplicação da RFT, mas a formulação inicial e os conceitos centrais da teoria são atribuídos a Hayes.
Características e Aplicação da RFT
A RFT trata de como experiências sensoriais se transformam em linguagem e como essa transformação pode alterar ou manter comportamentos complexos, especialmente em indivíduos com TEA com repertório verbal avançado. A RFT pode ser vista como uma extensão e expansão da Teoria da Equivalência de Estímulos, desenvolvida por Murray Sidman nos anos 1970 e 1980. Todavia, enquanto a teoria da equivalência se concentra principalmente em relações reflexivas, simétricas e transitivas, a RFT abrange uma gama mais ampla de relações entre estímulos, como a Arbitrarily Applicable Relational Responding (AARR) e Contextual Control. A RFT visa desenvolver novos repertórios comportamentais e torná-los mais sensíveis às contingências contextuais, ajudando os clientes a adquirirem habilidades práticas.
Processos Terapêuticos Fundamentais na RFT
Sensibilidade às Contingências Contextuais:
- Enquadramento de coordenação (nomeação)
- Distinção
- Rastreamento temporal, condicional e comparativo
Tomada de Perspectiva (Moldura Dêitica):
- Evocação de diferentes perspectivas e situações
- Promoção de uma atitude de abertura
Promoção de um Senso Hierárquico de Si Mesmo:
- Treinamento de distinção e hierarquia, facilitando a percepção do self e das experiências psicológicas.
Implicações para o TEA
A aplicação clínica da RFT no Transtorno do Espectro Autista (TEA) se concentra em abordar os déficits na comunicação social recíproca e na interação social, que são características essenciais do transtorno. As intervenções buscam substituir relações verbais derivadas por respostas relacionais diretas, promovendo contato com a experiência direta e a tomada de perspectiva, elementos cruciais para melhorar a interação social de indivíduos com TEA.
Conclusão
A RFT oferece um modelo teórico robusto para entender e intervir em comportamentos verbais complexos associados ao TEA. Através de processos como a sensibilidade às contingências contextuais, a tomada de perspectiva e a promoção de um senso hierárquico de si mesmo, a RFT complementa a prática clínica tradicional, proporcionando novas ferramentas para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos com TEA.