O sofrimento em escolher entre alternativas “genuínas” ou em manter o autocontrole em relação a as decisões que não apresentam recompensas rápidas são temas recorrentes na clínica psicológica e, por esse motivo, vou explicar a respeito do comportamento de escolha e autocontrole.
Leia a seguinte metáfora: Imagine que você esteja navegando com uma canoa pela primeira vez e, o seu objetivo é atracar à margem. Você tem dois remos simples de madeira. Inicialmente você movimenta os remos de vários modos e observa quais efeitos cada movimento produz, alguns parecem ser úteis ao aproximar a canoa do destino, outros não. Você passa a repetir àqueles movimentos que tiveram maior eficácia naquele contexto e deixa de usar os demais (ocorreu discriminação). Pouco a pouco, após muita repetição, a canoa aproxima-se da margem pela sua competência como observador do ambiente e por comportar-se ativamente para alterar a circunstância, afinal cada movimento teve o seu valor e foi reforçado positivamente até alcançar o objetivo final.
Esse é apenas um exemplo de controle ambiental. Provavelmente, se você fizesse sempre os mesmos movimentos sem observar os efeitos posteriores a cada comportamento e escolhesse entre eles para chegar à margem, provavelmente a sua canoa ainda estaria à deriva. — A vida é mais complexa do que manusear remos em uma canoa, eu sei. Mas posso dizer, assim como a vida é repleta de controle, também é repleta de escolhas.
O controle sobre nossos comportamentos não é apenas ambiental-estrutural, é também cultural e social (Skinner, 1953). Não podemos escapar de agências de controle como a família, o governo, a religião, a economia, a educação, etc. Como Sidman (1989) nos diz, as implicações da punição e da coerção podem ser variadas e severas, portanto a qualidade das consequências que conseguimos acessar são processos comportamentais importantes para o autocontrole e para o comportamento de escolher, e podem ser qualificadas como mais genuínas ou coercitivas (Goldiamond, 1976). O comportamento de escolha pode ser entendido através da análise dos estímulos concorrentes e dos esquemas de reforçamento envolvidos em cada comportamento. Essa relação é proporcional e pode ser expressa matematicamente se aplicada à Lei do Efeito (Herrstein’s matching law, 1961).
Concluindo, escolher entre alternativas “genuínas” (que produzem o sentimento de alívio ou prazer) são critério para o bem-estar do ser humano e o psicólogo tem o papel de evidenciar as variáveis que influenciam as escolhas, incluindo suas vantagens e desvantagens, para auxiliá-lo no processo de escolha. Do mesmo modo o psicólogo trata as variáveis, processos comportamentais e as operações motivadores que mantém o cliente se comportando no aqui-agora por um objetivo a curto ou longo prazo, aumentando a probabilidade de que tal objetivo seja alcançado.